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sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A importância das técnicas cartográficas no processo de reconhecimento de possíveis sítios arqueológicos


Juvandi de Souza Santos *

O uso de ferramentas cartográficas é conhecido desde a antiguidade com diversos fins: reconhecer o terreno para minar as possibilidades de um ataque ou contra-ataque de possíveis inimigos, edificações de construções defensivas, de estradas pavimentadas, etc., foi, até certo ponto, corriqueiro.

No Brasil, quando se instala o processo de colonização, portugueses, espanhóis e holandeses fizeram uso largamente dessas formas táticas de conhecerem o terreno, em especial, para a utilização do mesmo de forma defensiva.

Já com relação ao uso de algumas ferramentas cartográficas, como mapas e fotografias aéreas com o intuito de, por exemplo, localizar possíveis sítios arqueológicos no Brasil, o processo pode ser considerado até certo ponto recente. Atribui-se ao alemão Curt Nimuendaju, que percorreu o Brasil nas primeiras décadas do século XX, visitando e anotando além dos costumes, a cultura material, troncos lingüísticos, etc., a localização de mais de mil e quinhentas aldeias indígenas, sendo que, alguns dos povos mencionados por ele no seu excelente trabalho (talvez o principal de sua vida), denominado de Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju, já estavam extintos quando do início de suas pesquisas.

O mapa Etno-Histórico acabou por se tornar uma referência constante para os estudiosos da etnologia e etnografia dos inúmeros grupos indígenas que habitaram o território brasileiro. É bom salientar que Curt conseguiu a grande façanha de confeccionar três versões diferentes de seu mapa: a primeira em 1942, para o Smithsonian Institution, um dos financiadores de suas pesquisas; o segundo mapa para o museu Goeldi, em 1943; e, o terceiro, para o Museu Nacional, em 1944.

No período em que Curt confeccionou seus mapas, em papel Conson, utilizando nanquim, num mapa do tamanho de dois por dois metros, claro que incorreu em alguns erros, justificáveis pelo pouco desenvolvimento da cartografia no Brasil no início do século XX. Por exemplo, “Ao se cotejar a base planimétrica dos mapas originais de Curt com a dos mapas atuais, verificam-se alguma discrepâncias no traçado dos rios, linha de costa e limites” (BARBOSA, 2002: 19). As justificativas para tais erros são os poucos mapas precisos existentes no Brasil naquele período; tendo, portanto, pouca base cartográfica para compilar o tema.

Só em 1922 é que o Clube de Engenharia publicou as folhas da Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo. E, foi a American Geographic Society que publicou as folhas do mapa ao milionésimo da América Espanhola e Portuguesa na década de 1930 e início da década de 1940, em escala um pouco menor do que a utilizada por Curt em seu trabalho: 1: 2.500.000; até então só existia o mapa de Privat 1: 4.000.000 de 1939, que lhe serviu de base.

Mas foi com o extraordinário desenvolvimento da cartografia na Segunda Guerram Mundial que tudo melhorou. É certo que o mapa de Curt, apesar de seus equívocos, haja vista a própria deficiência da época, não pode e não deve ser desprezado. Ao contrário, ainda hoje é consultado por antropólogos, etnólogos, historiadores e principalmente arqueólogos.

A Segunda Guerra Mundial proporcionou uma verdadeira revolução nas técnicas cartográficas, só vistas então, na época das grandes navegações, entre os séculos XIV e XVII (IBGE, 1999). Uma dessas novas ferramentas, a fotografia aérea, passou, inicialmente a ser utilizada em larga escala no campo militar, o que acabou beneficiando, também, países poucos desenvolvidos e dificies de serem mapeados, devido as suas diversas formas de relevo, como o Brasil. Em 1942 e anos subseqüentes,


o recobrimento aerofotogramétrico pelo sistema trimetragon, da Força Aérea Norte Americana e o apoio de pontos astronômicos, levantados na campanha de coordenadas geográficas, desenvolvidas pelo IBGE, veio possibilitar uma melhor precisão no posicionamento da topografia do Brasil (BARBOSA, 2002.:20).



A partir daí, os mapas passaram a apresentar uma excelente base planimétrica da área territorial brasileira, beneficiando não só a cartógrafos e geógrafos, mas também historiadores, arqueólogos, etc., que passaram a fazer uso, em largar escala, dessa nova / velha ferramenta de trabalho.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento da Cartografia não parou. Pelo contrário, tem-se um novo “BOOM” neste campo científico, em especial com o lançamento dos primeiros satélites na década de 1950, que objetiva-se um mapeamento e reconhecimento mais eficiente do planeta: vivenciávamos a Guerra Fria. Agora, como antes, conhecer os pormenores do terreno ainda era uma questão de geoestratégia e, portanto, de poder. Aparecem as famosas cartas de radar elaboradas a partir de imagens obtidas pelos satélites. Essa nova tecnologia vai proporcionar uma varredura excelente do território, pormenorizando detalhes, facilitando, entre outras coisas, a localização de sítios arqueológicos.

Hoje, com novos aparelhos, a exemplo do GPS, é inconcebível que o arqueólogo ao ir para campo prospectar sítios arqueológicos, dispense o uso desse aparelho ou de cartas de radar, pois, essas ferramentas facilitam, inclusive, as localizações de espigões, matacões, rios e riachos, serras, vales, planícies, etc., locais estes possíveis de terem abrigados grupos humanos em tempos passados. Tais locais identificados (prospectados) são facilmente registrados nos mapas que servirão para as gerações presentes e futuras, como excelentes fontes de pesquisas e localização geográfica.

Enfim, ciências (ou disciplinas), como a Arqueologia apresentam, atualmente, uma grande dependência cartográfica e suas tecnologias, o que só lhe confere quão interdisciplinar é a arqueologia e, o quanto é importante o uso de ferramentas cartográficas e o intercâmbio com especialistas dessa ciência para o bom andamento dos estudos arqueológicos.

Assim, ver-se que nas últimas décadas, graças ao excelente e rápido desenvolvimento de novos aparelhos, a cartografia, o Sensoriamento Remoto, etc., contribui significativamente para ampliar os achados arqueo-paleontológico, e, por conseguinte, ampliar os estudos e conhecimentos sobre o processo de estruturação das espécies que habitaram e ainda habita o nosso planeta, em especial o homem. São essas novas descobertas que nos tem proporcionado um passo gigantesco para a humanidade, que é o de se desvendar, talvez, a sua maior indagação, qual sega: Quem somos nós?



Referências

BARBOSA, Rodolpho Pinto. A Cartografia do Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju. In.: Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Noções Básicas de Cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999.



* Juvandí é Mestre em Meio Ambiente (UFPB), Mestrando em Arqueologia (UFPE) e Doutorando em História com concentração em Arqueologia (PUC-RS) / Professor da UEPB Campus III (Guarabira)

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