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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Era uma vez a Caranguejo!

Thomas Bruno Oliveira*

Campina Grande é uma cidade que não sabe conviver com seu passado, não possuímos as marcas de suas várias historicidades. Falando sobre Nova Iorque, o pensador francês Michel de Certeau afirmou que: “Diferente neste ponto de Roma, Nova Iorque nunca soube a arte de envelhecer curtindo todo o seu passado. Seu presente se inventa, de hora em hora, no ato de lançar o que adquiriu e de desafiar o futuro” (CERTEAU, 2008. p.169). Me parece que, salvo as devidas proporções, a cidade de Campina Grande possui uma característica que é marcante em Nova Iorque, não se sabe conviver com o seu próprio passado! A cidade deve ser vanguarda, ganhar o progresso. Desta forma, a “capital do trabalho”, a “ rainha da Borborema” têm seu patrimônio histórico sendo profanado cotidianamente.

Sinal verde para a destruição do patrimônio

Nesta seara, no dia de ontem, tivemos a demolição do prédio da antiga fábrica de aguardente Caranguejo, às margens do Açude Velho. Um grande trator de esteira em pouco mais de uma hora levou a baixo praticamente toda a estrutura do prédio. Em agosto de 2010 foi a vez da chaminé-bueiro, uma das três existentes naquelas cercanias, testemunhando a primeira etapa de industrialização da cidade. O parque industrial sobreviveu bebendo as águas do Açude Velho e o “ouro-branco” prosperou sendo comercializado no mundo todo, dando o status à Campina Grande de “Liverpool brasileira”, exatamente pela pujança no comercio algodoeiro só superado por esta cidade inglesa.

Às 06 da manhã o trator-esteira iniciou o processo de destruição no lado defronte ao Hiper Bompreço, rasgando a face de entrada do prédio, trabalho este que foi paralisado e transferido para a noite por conta do trânsito verificado no horário. Às 09 da noite, pontualmente, o processo se desenrolou. Munido de filmadora e máquina fotográfica, estive em conjunto com o Prof. Vanderley de Brito para fazer o que nos restava, registrar aquela destruição. “Doeu no coração!! A imensidão da máquina e a poeira foi a dor nos olhos!!!, me disse a amiga Profa. Manuela Aguiar. Muito barulho, muita poeira e um século de história indo ao chão.



No último dia 10 de abril em uma matéria intitulada “Patrimônio Histórico é Destruído”, assinada por Antônio Ribeiro do Jornal Diário da Borborema, vi a informação de que: “A construtora responsável pelas obras de edificação do empresarial Plaza Shopping e do complexo multi uso, que serão erguidos no terreno onde funcionou a fábrica Caranguejo, em Campina Grande, vai ter que construir uma réplica da chaminé que fora derrubada em agosto passado. De acordo com o promotor de Defesa do Meio Ambiente, José Eulâmpio Duarte, a torre era tombada como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraiba (Iphaep) e não podia ter sido destruída. Além da réplica da chaminé, a empresa terá ainda que recuperar todos os armazéns do espaço da Estação Velha, como compensação pelo dano causado ao patrimônio histórico e cultural da cidade. Esta ação foi oficializada através de um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC imposto pelo Ministério Público à empresa responsável pelo empreendimento, uma das denúncias foi de minha autoria.

O próximo prédio a ser demolido, certamente, será o antigo DTOG (Departamento de Transporte, Oficina e Garagem) que hoje abriga a Gráfica Municipal. O prédio histórico está sendo leiloado pelo poder municipal e a construtora que o adquirir, certamente dará o mesmo triste destino que teve o prédio da Caranguejo. Resta saber se este TAC será cumprido ou teremos um desenfreamento deste duro golpe nas marcas do passado de nossa cidade. Era uma vez a Caranguejo! Pelo menos a fábrica mudou de lugar e não parou a sua produção.

*Historiador, thomasarqueologia@gmail.com

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