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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Antigo cemitério clandestino ou arqueológico? Artigo de Audemário Prazeres

Audemário Prazeres é presidente-fundador da Associação Astronômica de Pernambuco. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.

Um estudo de caso sobre as ossadas encontradas no limite dos municípios de Vertentes e Taquaritinga do Norte em Pernambuco.

Durante momento de treinamento em trilhas ecológicas, tive a grata oportunidade de conhecer o que se mostra ser um cemitério clandestino ou quem sabe até um sítio arqueológico, localizado na região da Serra da Taquara na divisa entre os municípios de Vertentes e Taquaritinga do Norte, no Agreste Setentrional do Estado de Pernambuco. Trata-se de uma furna com todas as características de um cemitério clandestino ou arqueológico, tendo uma grande quantidade de ossadas humanas facilmente visíveis com simples escavações de profundidades pequenas e medianas. Sua localização precisa refere-se a Latitude: -7,9163891170174 e Longitude: -36,0034539643675, obtidas a partir de medição por GPS.

Já dizia Sir Mortimer Wheeler, um dos principais arqueólogos britânicos do século XX, que "o arqueólogo não escava objetos, mas civilizações". Sabemos que a Arqueologia é enquadrada como ciência social que permite obter-se conhecimentos para melhor se entender a humanidade em seu passado, isso conforme a Lei Federal 3.924, que é exatamente a lei que rege o patrimônio arqueológico nacional.

Conforme registros históricos, somente a partir de 1828, surgiram leis que originaram a criação dos cemitérios considerados municipais. Mesmo assim, e seguindo ainda uma tradição medieval, era comum naquela época, os pagãos serem sepultados em cemitérios clandestinos distantes ou nas periferias das cidades e não em cemitérios municipais. O curioso é que essa ação em que os negros eram sepultados clandestinamente acabou se tornando um símbolo da resistência à escravidão.

Quando me refiro a possibilidade de ser um cemitério clandestino parto do princípio que, na época do Brasil colonial, não haviam locais como entendemos hoje como cemitérios. O que justifica o costume de haver sepultamentos sob piso ou paredes de igrejas e até conventos. Essa cultura que envolve esse tipo de sepultamento parte de um costume encontrado desde a Idade Média, pois acreditava-se que havendo sepultamento em uma igreja, estaria o sepultado mais próximo de Deus. Como sepultar era um serviço extremamente caro, nesses locais eram sepultadas as pessoas mais importantes financeiramente da época.

Há relatos históricos que a cidade de Vertentes, distante 156 km da capital Recife, originou-se a partir das civilizações de antigamente que penetraram naquelas terras pelos idos dos anos de 1750, partindo de perto do Rio Capibaribe indo atingir os limites com o estado da Paraíba. Lá existe uma igrejinha secular, conhecida popularmente como Capela da Goiabeira, edificada no antigo Sítio da Goiabeira existente desde a formação da cidade, hoje conhecida como Igreja Nossa Senhora das Dores. Contam seus moradores mais antigos que a mesma foi construída por negros escravos. Assim, podemos conjecturar ser realmente uma furna das ossadas, encontrada na divisa dos municípios de Vertentes e Taquaritinga do Norte, um local de sepultamento dos negros escravos que existiam naquela região, pois a igreja - que é localizada no referido Sítio das Goiabeiras - é próxima e de fácil acesso a furna dos ossos encontrada.

No momento em que nos deparamos com o local do provável cemitério clandestino ou arqueológico em questão, como de praxe, ao percebermos que o achado poderia ser de cunho arqueológico, notificamos as autoridades competentes e, ainda estando no local da referida furna, entrei em contato com meu ex-professor, Luiz Carlos Luz Marques, coordenador do Curso de História da Universidade Católica de Pernambuco. Este, por sua vez, nos orientou contatarmos a arqueóloga Elenita Rufino, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fato este notificado em 7 de fevereiro de 2012. Na ocasião obtive como resposta, que o Iphan-Pernambuco encontrava-se resolvendo questões orçamentárias para o exercício 2012 e, assim que os recursos estivessem disponíveis, as fiscalizações seriam agendadas no referido local da furna das ossadas para verificação.

As imagens contidas no corpo do artigo foram feitas na ocasião da descoberta, pelo ambientalista e professor Arnaldo Vitorino que me acompanhou na expedição até ao local, ocasião em que oficializamos a existência da mesma aos órgãos de pesquisa.

Fonte: JC e-mail 4552, de 01 de Agosto de 2012.              

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